Quem salva uma vida salva o mundo

Quem salva uma vida salva o mundo

Imagine a cena: uma vasta extensão de areia, ainda úmida da fúria da tempestade que varreu a costa. Espalhadas por toda parte, como incontáveis joias sem valor, jazem milhares de estrelas do mar, retiradas de seu lar pelas ondas implacáveis. Um homem, caminhando pela praia, observa a desolação. De repente, seus olhos capturam um movimento singular: uma menina, curvada, pegando cuidadosamente uma estrela do mar de cada vez e lançando-a de volta ao oceano revolto.

Intrigado e talvez com uma ponta de ceticismo, o homem se aproxima e questiona a aparente futilidade da ação: "Menina, o que você está fazendo? Existem milhares de estrelas do mar aqui. Você não pode salvar todas elas. Não faz diferença!"

A menina, sem desviar o olhar da pequena criatura em suas mãos, deposita-a gentilmente nas ondas quebrando na beira da praia. Com a determinação nos olhos, ela se volta para o homem e responde com uma sabedoria que transcende sua idade: "Faz diferença para esta aqui."

Essa singela e profunda metáfora ecoa com uma força especial no coração daqueles que dedicam suas vidas, seus recursos e seu amor ao cuidado de animais abandonados, especialmente os cães sem lar. Assim como as estrelas do mar na praia, a quantidade de animais desamparados pode parecer avassaladora, uma maré interminável de necessidades, dor e sofrimento. Diante desse cenário, é fácil sucumbir ao desânimo, questionando o impacto de esforços individuais ou de pequenos grupos. "Para que tentar?", o cético em nós pode sussurrar, "são tantos, a dor é tanta..."

No entanto, a realidade vivida por esses cuidadores nos mostra a metáfora em ação no dia a dia. Lembro-me claramente de uma noite, já tarde, quando vi minha vizinha, Fernanda Rauedys, lavando o interior de seu carro com uma dedicação que me chamou a atenção. Curioso, parei para conversar e a explicação que ouvi me tocou profundamente e reacendeu a imagem da menina na praia.

Fernanda me contou que havia acabado de transportar um cachorro em estado lastimável, com uma ferida infestada de bichos na perna. O transporte sujou consideravelmente o estofamento do carro, mas para ela, aquele inconveniente material era ínfimo diante da urgência de socorrer o animal. Naquela conversa, ela compartilhou outros relatos de resgates e os inúmeros desafios que ela e a ONG Planeta dos Bichos enfrentam diariamente para acolher, tratar e encontrar lares para os animais que encontram pelas ruas.

Ao voltar para casa, refletindo sobre o sacrifício, a entrega e o compromisso de Fernanda e de tantos outros voluntários, a metáfora da estrela do mar voltou à minha mente com uma clareza cristalina. Aquele cão ferido, transportado com amor apesar da sujeira e do transtorno, era a estrela do mar de Fernanda naquele momento. Sua ação, embora não resolvesse o problema de todos os cães abandonados, fez toda a diferença para aquele ali. Ela o retirou da "praia" do abandono e da dor e o colocou de volta no "oceano" da esperança, da cura e da possibilidade de uma nova vida.

Cada cão resgatado, cada ferida tratada, cada barriga cheia, cada olhar que volta a brilhar com confiança, cada rabo que abana em gratidão – cada um deles é a estrela do mar salva. Os cuidadores de animais abandonados, como Fernanda e os membros da Planeta dos Bichos e de tantas outras ONGs e iniciativas individuais, muitas vezes enfrentam uma batalha árdua e silenciosa. Lutam contra a falta de recursos, o descaso da sociedade, a burocracia e a própria exaustão emocional diante da constante exposição ao sofrimento. Cada consulta veterinária paga com dificuldade, cada abrigo improvisado construído com carinho, cada hora dedicada a acalmar um animal traumatizado é um ato de amor que pode parecer uma gota no oceano.

Mas, assim como a menina na praia, esses indivíduos sabem que para aquele cão específico, sua ação é um farol de esperança em meio à escuridão. Eles veem a transformação: o corpo magro que ganha peso, a timidez que se dissolve em alegria, o medo que dá lugar à confiança. Eles vivenciam a poderosa verdade de que, mesmo que não possam salvar a todos, salvar um é salvar um mundo inteiro para aquele ser.

Este texto nasce dessa reflexão, motivada pelo testemunho real da dedicação de Fernanda Rauedys e inspirada na perene sabedoria da metáfora da estrela do mar. É uma humilde homenagem a ela, à ONG Planeta dos Bichos, e a todos os grupos, voluntários e indivíduos que, movidos pela compaixão, escolhem arregaçar as mangas e fazer a diferença na vida de um animal por vez. Que esta pequena partilha possa não apenas reconhecer o valor imensurável de seu trabalho, mas também inspirar outros a olhar para a "praia" ao seu redor e encontrar sua própria "estrela do mar" para jogar de volta no oceano da esperança. Para eles, a diferença é tudo.

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