Por que Odiamos Tanto os Políticos?

Por que Odiamos Tanto os Políticos?

A relação entre a sociedade e a classe política é, no Brasil e em muitas partes do mundo, marcada por uma profunda desconfiança e até ódio. "Político" virou quase um sinônimo de "corrupto", um termo carregado de desprezo. Mas por que chegamos a esse ponto? A resposta é complexa, mas uma parte significativa dela reside na construção midiática da imagem dessas personalidades e em como isso afeta nossa percepção do papel essencial do gestor público.

É inegável que a corrupção é um problema real e endêmico na política. Casos de desvio de dinheiro público, nepotismo e tráfico de influência pipocam diariamente nos noticiários, e a mídia, em seu papel de informar, naturalmente os expõe. No entanto, o modo como essa exposição é feita merece uma reflexão crítica. Muitas vezes, a narrativa midiática, buscando audiência e impacto, tende a generalizar e espetacularizar a corrupção. Em vez de focar em casos específicos e em suas complexidades, há uma inclinação a pintar a política como um todo como um pântano de imoralidade.

Essa abordagem cria um estereótipo: o político é, por definição, desonesto. As exceções, quando existem, são raramente destacadas com o mesmo fervor. O resultado é que a imagem do "vilão corrupto" se solidifica no imaginário popular, e cada novo escândalo apenas reforça essa percepção pré-existente.

O grande perigo dessa demonização generalizada é o afastamento da percepção da importância do gestor público. A política, em sua essência, é a arte de administrar a polis, a cidade, a nação. Políticos são, ou deveriam ser, os responsáveis por criar leis, alocar recursos, planejar o desenvolvimento, garantir serviços essenciais como saúde e educação, e defender os interesses da população. Sem gestores públicos, o caos se instalaria.

No entanto, quando a imagem dominante é a do "ladrão" ou "incompetente", a sociedade começa a desvalorizar a própria função política. Isso leva a um ciclo vicioso: o desprezo pela política afasta pessoas íntegras e capacitadas de ingressar na vida pública, e aqueles que lá estão são vistos com tamanha desconfiança que qualquer ação, por mais bem-intencionada que seja, é alvo de ceticismo. Cria-se um ambiente onde a própria noção de "serviço público" é maculada.

O ódio aos políticos, impulsionado por essa construção midiática, tem um preço alto. Ele gera apatia, desengajamento cívico e, paradoxalmente, fragiliza a democracia. Se todos os políticos são vistos como iguais e inerentemente maus, a vontade de participar, fiscalizar e exigir melhorias diminui. A descrença no sistema pode levar à busca por soluções simplistas ou até autoritárias, na esperança de que "um forte" resolva tudo.

É fundamental, portanto, que a sociedade e a própria mídia reflitam sobre o papel nessa dinâmica. Sim, é crucial denunciar a corrupção e exigir responsabilidade. Mas é igualmente importante contextualizar, diferenciar e, acima de tudo, restaurar a percepção do valor do bom gestor público. A política não é um mal necessário; é uma ferramenta indispensável para o progresso social. O desafio é resgatar sua dignidade, distinguindo o joio do trigo, e reconhecer que, para que haja soluções para nossos problemas, precisamos de políticos — e não odiá-los indiscriminadamente.

Deixe um Comentário